1.4.08

O mundo moderno orgulha-se da sensibilidade social e preocupação com os necessitados. O Governo faz gala nisso. O nosso tempo acaba de conseguir uma grande vitória na vida dos pobres. Não acabou com a miséria. Limitou-se a proibi-la. É que, sabem, a pobreza viola os direitos do consumidor e as regras higiénicas da produção.

A nova polícia encarregada de vigiar a interdição da indigência é a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, ASAE. Segundo as regras por que se rege, grande parte dos pequenos negócios, empresas modestas e produtos tradicionais, bem como as vendas, bens e esmolas de que vivem as pessoas carenciadas ficam banidas. É pena, mas não há lugar para pobres na sociedade asséptica que pretendemos.

É evidente que as exigências impostas nos regulamentos e fiscalizadas nas inspecções impossibilitam a sobrevivência das empresas menores. Obras necessárias, aparelhos impostos, dimensões requeridas são inacessíveis, excepto às multinacionais, grandes cadeias e empresas ricas, que a lei favorece. Os pequenos ficam rejeitados. Pode dizer-se que a actuação da ASAE constitui o maior ataque aos pobres desde o fim da escravatura.

Alguns argumentam que não é esse o espírito da lei nem o sentido da acção da Autoridade. Mas as notícias recentes desmentem essa interpretação favorável. O número de velhas tradições alimentares agredidas é tal que deixou de ser novidade. A 14 de Janeiro passado, a ASAE visitou o Centro de Dia de Póvoa da Atalaia, Fundão. Aí impôs obras caras, destruiu a marmelada que tinha sido oferecida pelos vizinhos e levou frangos e pastéis dados como esmola (Lusa, 06.03.2008). O jejum a que a Autoridade condenou aqueles pobres velhos foi feito em defesa da sua higiene alimentar. Parece que ter fome não é contra os regulamentos do consumidor.
Para juntar insulto ao agravo, recentemente a Autoridade lançou a sua "maior operação de sempre" com prisões e apreensões para "celebrar o dia do consumidor" (Lusa, 14.03.2008). Como os selvagens, a ASAE celebra contando escalpes. Entretanto os verdadeiros criminosos continuam a operar e a criar problemas sanitários e ambientais. O mais trágico nesta tolice monstruosa é que, enquanto anda a perder tempo a perseguir os pobres, a ASAE descura a sua verdadeira missão, que é mesmo muito importante.

Será que alguém pode ser tão estúpido, insensível e maldoso? Esta hipótese nunca deve ser descartada, sobretudo nos tempos que correm. Mas a explicação é capaz de ser outra. Só um iluminado pode fazer erros tão crassos. O que realmente se passa é que a ASAE não se considera uma polícia nem se vê a perseguir malfeitores. A sua missão suprema é educar o povo para a segurança alimentar. A finalidade é mudar o mundo. O seu objecto são, não os criminosos, mas toda a população. O que temos aqui é um conjunto de fanáticos com meios para impor às gentes ignaras o que julga ser o seu verdadeiro bem. Desta atitude saíram as maiores catástrofes da história.
Mas a culpa última não é da ASAE. Ela é responsável pela arrogância, tolice e insensibilidade com que aplica a lei. Mas a origem está nas autoridades portuguesas e europeias que criaram um tal emaranhado de ordens, regras e regulamentos que impedem a vida comum. A incongruência e irresponsabilidade da legislação, nas mãos de fanáticos, criam inevitáveis desgraças. A lei anula-se a si mesma. Ao promover o consumidor esquece o produtor, ao favorecer o investimento ignora o ambiente, ao cuidar do mercado desequilibra a saúde. Quem queira cumprir à risca o estipulado não sobrevive. Nem sequer quem o impõe: "Sede da ASAE [no Porto] não cumpre regras impostas pela ASAE" (JN, 17 de Fevereiro).

Numa sociedade democrática, a responsabilidade última está nos eleitores. Os séculos futuros vão rir de um tempo tão ingénuo que quis leis e regulamentos para todo e qualquer aspecto da vida. Esta obsessão legalista, mecanicista, materialista, se nos traz ganhos importantes, acaba por asfixiar a realidade. Como sempre, os pobres são os primeiros a sofrer.

João César das Neves

O Problema Opus Dei

O Opus Dei anda nas bocas do mundo. Não bastava a fama antiga de manipulação, agora perdeu um banco, que é negligência de monta. Qual será o problema do Opus Dei?

Como todos os mitos urbanos, a teoria da relação entre a Prelatura e o BCP levanta mais questões do que resolve. Como se pode deixar escapar um banco daquele tamanho assim tão facilmente? Quais eram afinal os poderes ocultos que, de forma tão dramática mas silenciosa, foram derrotados? Não devemos temer mais a Maçonaria, que alegadamente ganhou o negócio, que o Opus Dei, que nem sequer teve força para o conservar? Afinal, não será toda esta confusão de poderes escondidos um enorme disparate, tendo tido o BCP apenas uma zanga habitual entre administração e accionistas?

Mas o problema da Prelatura do Opus Dei vai mais fundo. Toma-se consciência disso ao vermos "acusados" de serem da Obra muitos leigos só por se afirmarem publicamente como cristãos, mesmo sem nada a ver com ela, como eu. Em particular, são-lhe atribuídos todos os católicos "conservadores", entendendo-se por esta palavras aqueles que querem seguir a doutrina cristã como ela é. Ser fiel ao Papa e à Cúria, acreditar nos Evangelhos, Credo e obras dos Padres, recusar as patranhas que os críticos do momento inventam, isso hoje é ser conservador e automaticamente do Opus Dei.

Um cristão é tolerado desde que não se note que o é.

No fundo, esse problema é o mesmo que vários outros grupos católicos foram tendo ao longo dos séculos. Em todas as épocas a Igreja sempre defrontou inimigos poderosos. Esses gostavam de isolar uma pequena secção de crentes para a mimosear com o pior das suas fúrias. Há cem anos eram os jesuítas; há 500 os dominicanos; hoje é o Opus Dei. Estes têm a honra da escolha do inimigo.

É muito curioso notar uma flutuação marcada nessa história da raiva anticristã. Conforme as épocas, no meio da enorme diversidade de carismas da Igreja, os movimentos escolhidos pelos críticos vêm alternadamente dos pobres e dos poderosos.

O Império Romano não ligou ao cristianismo enquanto foi uma religião de escravos. Mal começou a haver conversões na classe senatorial, iniciaram-se as perseguições a sério. Como a elite não era cristã, tinha medo do poder que os fiéis viessem a possuir.

Depois, a partir de Constantino, durante séculos as classes poderosas aderiram à fé. Por isso nesse período os movimentos atacados passaram a ser do povo. Primeiro os eremitas, depois os beneditinos, finalmente os franciscanos e dominicanos, todos tinham um aspecto subversivo que desagradava às instituições, crentes ou infiéis.

A partir da Idade Moderna, quando as elites voltaram a afastar-se da Igreja, regressaram os medos romanos.

Os ateus aceitam os cristãos pobres, como a madre Teresa. O que os enerva é a existência de "senadores" fiéis e o suposto poder manipulador de certos crentes. Foi assim com os jesuítas nos séculos XVIII e XIX, é assim agora com vários movimentos religiosos.

Nestes, o Opus Dei tem uma certa visibilidade especial, por exemplo com O Código da Vinci. Mas noutras zonas do mundo ouvimos criticar da mesma forma focolares, CL, carismáticos, salesianos e muitos outros.

Que motivos para tanta crítica? Os inimigos têm as suas razões, mas entre as censuras mais citadas estão as Cruzadas e a Inquisição, que acabaram séculos antes deles nascerem. Se virmos bem, ao longo dos tempos todos os grupos visados, tão diferentes nas suas formas, têm uma coisa em comum: viver a sério a doutrina de Cristo.

No fundo o problema do Opus Dei, como dos outros, é só aquilo que celebramos nestes dias da Páscoa.

Todos os cristãos estão avisados desde o princípio. "Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: o escravo não é maior que o senhor. Se perseguiram a mim, também hão-de perseguir a vós" (Jo 15, 20).

Essa é a sua glória: "Bem-aventurados sereis quando vos insultarem e perseguirem e, por minha causa, disserem todo o tipo de calúnia contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque grande será a vossa recompensa nos céus." (Mt 5, 11-12).
João César das Neves

A lição de Magdi Allam

Após um sério percurso interior, Magdi Allam mudou de religião: converteu-se ao cristianismo, renunciando à fé islâmica. O vice-director do jornal Corriere della Sera foi baptizado pelo Papa durante a Vigília Pascal, com o nome de Cristiano.
Ainda era muçulmano e já tinha sido condenado à morte pelos radicais islâmicos, devido às suas posições moderadas contra o fundamentalismo religioso. Por isso, vive há cinco anos acompanhado, dia e noite, por três guarda-costas da polícia italiana. Agora, que se converteu ao cristianismo, declara, perante a crescente indignação de sectores muçulmanos: “Não me deixarei intimidar. Estou orgulhoso por ter sido baptizado publicamente pelo Papa. O testemunho de Bento XVI diz-nos que é preciso vencer o medo e afirmar a verdade de Jesus, mesmo com os muçulmanos. “ E recorda que, enquanto milhares de italianos convertidos ao islão vivem serenamente a sua nova fé, o contrário já não é verdade, porque – aqui ao lado, em Itália – milhares de muçulmanos convertidos ao cristianismo, são obrigados a calar a sua opção com medo de serem assassinados…
Magdi Cristiano dá-nos uma grande lição porque testemunha que “a liberdade religiosa é um direito sagrado que se ostenta com orgulho”.
Aura Miguel

Medicina a Pedido

A Ministra da Saúde disse hoje que a cesariana a pedido da grávida não pode ser implementada no SNS. Argumentou que a cesariana é um acto médico que deve ser decidido por médicos. Garantiu que no SNS não há medicina a pedido. Podia ter acrescentado: a pedido só mesmo o aborto.

João Miranda

Aumento do Pão em 50%

Um caso particular, mas decerto familiar a muitos de vós. Somos uma família normal de 4. Somos aquilo a que em tempos se chamou "classe média". Como acontece com muitos, bem mais de 50% do nosso rendimento é chupado pelo banco para a prestação da casa. Há cerca de dois anos, sentindo-nos desanimados com a política e impotentes para vencer as injustiças sociais, estabelecemos regras individuais importantes, de sobrevivência e luta: por norma, deixámos de consumir o que quer que seja em pastelarias. O pão faz-se em casa, com uma máquina (dura muito se for integral); as sandes, obviamente, também; café e sumos idem; iogurtes, só compramos naturais e os mais baratos (a imaginação é à borla e acrescentamos o que houver); ao jantar não é preciso carne (ao almoço, confiamos que as crianças comam na escola) e para proteínas temos o leite e seus derivados, e outras alternativas mais baratas, como feijão com arroz (ou seja, raramente compramos carne); no frigorífico temos agora leite, manteiga, iogurtes naturais, sopa e legumes frescos; no congelador, legumes e peixe. Na despensa, há variedade de massas, arrozes, e afins. Mas sim. Gostaríamos de não viver assim, a fazer esta ginástica diária. Como muitos de vocês, certamente. Por isso deixo a sugestão: se formos muitos a boicotar a sociedade de consumo (vocês pagam mesmo 500 paus por um sumo de laranja natural num café?!), pode ser que mudemos alguma coisa. Não vejam isso como uma privação, mas como uma forma de luta. Vão para os jardins públicos, para espaços gratuitos. Levem os amigos, os filhos, os sacos com fruta nacional e pão feito em casa. Convivam. Discutam. Divirtam-se. Organizem-se. Voltem a falar de ideias. Deitem fora os cartões de crédito. Acordem. Saiam dos centros comerciais. Avisem o Sr. António do café que não voltam a entrar lá enquanto a bica custar mais de 80 paus (e já é um exagero). Obriguem-no, também ele, a "fazer ginástica" e a protestar. Inventem novas maneiras de rir na cara das grandes bestas que vivem luxuosamente às nossas custas. Quem ri por último, ri melhor, acreditem.
Margarida, Lisboa

Dúvida colocada no site das Finanças:

"Sou sócio do Benfica e estou a fazer a minha declaração de IRS. Como pago a quota de sócio todos os meses, devo colocar o Benfica como meu dependente? "

Resposta das Finanças:

"Claro que não. Só pode colocar dependentes na Declaração de IRS quem ganhou alguma coisa em 2007. No seu caso, uma simples Declaração de Isento é o suficiente."